domingo, 3 de abril de 2011

Indisciplina ou má educação?

Boa noite!

Nos próximos posts, enfatizarei o problema da indisciplina na escola e na sala de aula. Problema que tira o sono de professores e todos os que trabalham com educação. Não me preocuparei com elucubrações teóricas, já que o objetivo deste blog é tão somente retratar o cotidiano escolar a partir do ponto de vista do professor.

Pois bem, ao falar de indisciplina, quero aqui antecipar algumas observações. Em primeiro lugar, o problema da indisciplina em sala de aula se deve a inúmeros fatores: condição social e nível de escolaridade dos pais dos alunos, presença do professor, atitude firme da direção da escola, bem como o grau de valorização que a sociedade confere à educação. Além disso, precisamos destacar os diversos níveis de indisciplina. Desde uma inocente conversa paralela até um briga ou um confrontamento contra o professor há uma distância enorme. O que pretendo tratar aqui é exatamente o caso mais extremo, que infelizmente é cada vez mais comum em nossas salas de aula. Ou seja, não estamos falando da velha conversa paralela e das distrações que tanto faziam parte de nossas vidas quando éramos alunos; tampouco trata-se do caso em que o professor é completamente omisso e incompetente. O que estou afirmando é que, mesmo quando temos professores e direção comprometidos, a indisciplina grave ainda ocorre, e dificilmente, passa uma semana sem que a escola enfrente um caso mais grave. Em suma, o problema está fora dos muros da escola, na comunidade, na sociedade.

Vou citar alguns exemplos para que entendam melhor a situação. Todos ocorreram comigo em sala de aula, alguns mais graves, outros menos.

Era uma aula como qualquer outra de História em uma turma do 1º ano do Ensino Médio. Já é uma sala difícil, com alguns alunos que não conseguem ficar sentados, mesmo quando advertidos, e com conversa paralela generalizada em volume alto. Estava eu verificando as atividades dos alunos e atendendo em particular as dúvidas de duas alunas. É um momento em que você deve dedicar atenção especial aos alunos com dúvidas, enquanto o restante da sala fica mais livre. Esta situação seria perfeitamente normal em turmas com alunos relativamente tranquilos e disciplinados. O problema é que enquanto eu atendia as alunas, dois alunos do fundão resolvem sair na porrada do nada. E foi porrada mesmo, uma verdadeira luta de boxe. Tive de largar o posto de professor e entrar como juiz para separar os brigões. Encaminhei-os à diretoria.

Fico pensando como uma briga pode ter surgido do nada, já que a aula seguia mais ou menos dentro da normalidade. Percebam que isso é algo que não está previsto nas teorias pedagógicas, nas aulas de didática, nem pode ser colocado como responsabilidade do professor. É uma situação complexa na qual você realmente se sente impotente.

Na mesma sala, só que em outra ocasião, aconteceu algo que admira aqueles que ouviam de suas mães, desde pequenos, que se deve respeitar as coisas dos outros, que não se deve sair por aí mexendo nos objetos alheios sem autorização. Algo básico que aprendemos desde cedo, não é mesmo?

Pois bem, estava eu dando aula na sala de vídeo, com o computador ligado. Quando terminou a aula, fui para a frente da sala para entregar as carteirinhas dos alunos. Quando termino, qual não é a minha surpresa ao ver dois alunos mexendo e brincando com o computador! Alguém permitiu que eles o fizessem? Que falta de bom senso e educação!

Mas isso acontece com grande frequência. Se você descuidar eles mexem nos diários de classe, no estojo do professor e até no computador, se você se preocupa em dar aulas mais dinâmicas e variadas para eles. Infelizmente esta realidade é presente e desanima um bocado.

Um outro caso ocorreu em uma turma de 3º ano do noturno. A aula fluía bem, com alunos participando de forma interessada. Estávamos exercitando questões de Enem e vestibular na disciplina de atualidades. De repente, ouve-se um estouro seguido de gargalhadas efusivas vindas de 4 ou 5 alunos que sentavam no fundo. Eles haviam explodido uma bombinha em plena sala de aula, novamente do nada! Vai entender o que leva o sujeito a fazer isso!

Nem preciso dizer que a aula terminou e eu fiquei furioso. Fiz um discurso inflamado e percebi que para alguns deles (além dos que estavam envolvidos com a bombinha) nem deram bola. Faziam ares de quem estava de saco cheio, do tipo "Lá vem ele com aquele discurso moralista de professor chato!".

Em todos esses casos, voltei para a casa nervoso, com as mãos tremendo e um abatimento considerável. Aquelas aulas foram meticulosamente preparadas e ocuparam algumas horas do fim de semana e de momentos que deveriam servir para descanso após o expediente de trabalho. Nesses dias, as noites foram muito mal dormidas também.

É nessas horas que penso se vale a pena. Para que se matar, tentar trazer seu conhecimento, sua bagagem para oferecer perspectivas para esses alunos, se as condições de trabalho não o permitem? Eles continuarão fazendo isso, porque a escola é refém de uma sociedade que não prioriza a educação e que mal sabe o que ocorre dentro das salas de aula. É cada vez mais comum vermos professores desmotivados, cansados ou simplesmente desencanados. Muitos entram já pensando em sair, estão fazendo mestrado, procurando escolas particulares, universidades ou outros concursos públicos. Não adianta falar em números, índices e estatísticas se não explicitarmos esta grande deficiência da sociedade brasileira: a falta de educação generalizada. Se isto não for corrigido, teremos um crescimento econômico torto, com consumismo desenfreado, indivudalismo grotesco e um trânsito cada vez mais caótico, que relfete o nível educacional da população. Em suma, não atingiremos o desenvolvimento de fato.

3 comentários:

  1. Olá! Acabei de conhecer seu blog pela comunidade do orkut "Concurso Público Sp". Parabéns pela iniciativa. Enfim, concordo com você quando diz que a sociedade, de forma generalizada, perdeu a educação. Perdeu mesmo. Um fácil exemplo é a dificuldade de distinguir o que é público e o que é privado. Há poucos minutos eu jantava em um fastfood acompanhando toda a conversa (fofoca de radio peão)de uma funcionária de concessionária de automóveis que falava desabaladamente ao Nextel. Me poupe!!! Eu não tinha nada com a história, mas fiquei sabendo detalhadamente o que ocorria no depto da moça, seus planos para o futuro, seus desafetos... Eu, e toda a torcida do Corinthians, Palmeiras, São Paulo... Ela gritava ao telefone na maior naturalidade enquanto seu "boi com pão" girava e girava dentro de sua boca! Euzinha? Pobre de mim! Não consegui me concentrar em minha própria conversa. Terminei a refeição às pressas e saí correndo. Lamentável!
    Priscila

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  2. Prof estou adorando o Blog, mas esse ultimo post é triste! sei muito bem o que você passa na sala de aula por que sou aluna de uma escola publica e ja estive dentro de uma particular como tu também sabe .Enfim, só não desista não, sempre vale apena, por que apesar de ser minoria, existem alunos que são interessados sim e que fazem diferença no futuro!

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  3. Gostei muito do seu Blog. Atualmente procuro me informar sobre a realidade da sala de aula pois ainda estou em dúvida se serei capaz de suportar toda essa dificuldade que meus colegas estão enfrentando. Não sei se tenho coração para tudo isso.
    Talvez eu seja chamada nesta próxima convocação e a falta de experiências positivas está me desanimando muito.
    Ser professor hoje parece ser ir para guerra todos os dias. Uma guerra muda que só nós vemos. Não sei ainda se meu psicológico irá suportar isso.
    Abraço

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